Vida nos post-its

Todo mundo tem suas manias e esquisitices. Tem gente que gosta de dormir de cobertor no calor, gente que só anda no banco de trás do carro, gente que nem de viajar de carro gosta, gente que separa a comida no prato, gente que morre se deixar portas abertas. Bom, eu tenho uma mania que muita gente também tem, e que quem não tem, um dia ainda vai ter.

Mania de post-its.

Além de serem super coloridos, bonitinhos, e terem uma cola que nunca acaba, os bichinhos são danados de úteis. Lembram a gente o dia da prova, a matéria, a arrumação do guarda-roupa que ficou pra depois, o telefone do encanador, o nome daquele remédio pra memória - o que é uma contradição, pois se tivéssemos memória, não teríamos post-its.

Pois bem, era exatamente aí que eu queria chegar. Como pode um objeto tão simples, tão pequenininho, tão cuticutizinho ter um papel [literalmente] tão grande nas nossas vidas?

Comecei a pensar nisso enquanto via o filme P.S., eu te amo e terminei de pensar nisso enquanto via O Fabuloso Destino de Amelie Poulain (recomendo!).

Nos dois filmes, milagres acontecem através de um papel e uma caneta. Em P.S., eu te amo a moça recebe cartas do falecido marido de maneiras mágicas, e as cartas a ajudam a recuperar-se do baque de ser uma viúva.

Em O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, o milagre é ainda melhor. A pobre da Amelie cresceu sozinha com o pai, e não teve amigos. Não sabia se comunicar, morria de vergonha e medo de tudo, até o dia em que achou uma caixa com pertences antigos de um senhor, e descobriu como coisas pequenas podem fazer a diferença. Começa então a fazer caridadezinhas e conhece seu príncipe encantado, com quem se relaciona por meio de fotos, recortes, cartas. E o fim eu não vou contar, claro.

Às vezes temos tanto, mas tanto medo de deixar coisas pequenas realizarem a mudança que precisamos na nossa vida, que esperamos que as grandes aconteçam. Afinal, quando grandes problemas batem à nossa porta, não precisamos mais de coragem, e sim de desespero, pra começar a agir. Aí fica fácil.

É claro que nós, seres do mundo real, não precisamos esperar uma tempestade pra pegar o guarda-chuva. Eu mesma tenho plena noção de tudo o que acontece na minha vida, afinal, é a minha vida. E por mais que seja difícil conciliar todas as coisas, eu ainda prefiro que os post-its e cartas sirvam como lembretes e meios de comunicação, ao invés de um 'toque' de que precisamos aprender a falar e ter coragem de fazer.

Apesar de bonitinha e meiguinha, Amelie não vai ser meu exemplo de vida. E mesmo que me chamem de bravinha e desbocada, vou continuar achando que eu só apenas corajosa. Esse livro quem escreve sou eu, certo?








Amelie, escrevendo um bilhete para seu príncipe desconhecido, sem coragem para encará-lo de frente.





O exército de um homem só

Revolucionar é uma palavra que já está perdendo o sentido.
Desde sempre, as pessoas dizem: "Mostre o que você quer, garota! Seja uma revolucionária!".
Faixas, cartazes, paradas disso e daquilo, camisetas com frases diferentes, um ou dois programas de televisão já não fazem a menor diferença.
Estou lendo um livro chamado 'Story', que ensina aspirantes a cineastas a escrever um roteiro de sucesso. Não há uma fórmula mágica para que o roteiro seja um sucesso, mas existe uma dica repetida diversas vezes, páginas adentro: imite a vida. Faça da vida, por mais miserável que seja, brilhante aos olhos daquele que o assite. Não importa se vamos contar a história de um astro musical, de um mendigo ou de um simples transeunte do metrô fedido de São Paulo - o importante é fazê-lo o melhor, mais sensível e fantástico personagem, com experiências inesquecíveis e momentos marcantes [um mini clímax por cena, diga-se de passagem].
É óbvio que filmes de vilões cheios de efeitos especiais surtem efeito e vendas, mas logo caem no esquecimento. No fim da ditadura militar, não foram passeatas e cartazes que ficaram na memória de jornalistas e historiadores, mas sim a coragem de cada um daqueles que lutavam por um Brasil melhor.
É exaustivo, porém recompensador, encontrar um ponto de equilíbrio entre ser uma revolucionária cheia de efeitos especiais e uma simples Tamara que vive uma história da qual é a personagem principal. Posso gritar, me despir e causar burburinho, mas logo vou cair no esquecimento. E já que é assim, prefiro ficar quietinha - quem sabe um dia alguém não acredita nas minhas certezas, ou percebe que eu posso sim ser uma fantástica personagem?
Basta esperar.









 

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